sexta-feira, 2 de novembro de 2012

ENTREVISTA A LUÍS CONCEIÇÃO


Fale-nos um pouco de si. Quem é Luís Conceição?

Sou treinador de futsal com nível III e licenciado em Educação Física e Desporto. Presentemente desempenho as funções de técnico de desporto na Camara Municipal de Alcoutim. Esta época no futsal tenho as funções de seleccionador das diversas selecções distritais de futsal e colaborador para o futsal no gabinete técnico da AFA.


Qual o seu percurso no mundo do futsal?
Iniciei a minha aventura no futsal no escalão de iniciados há 14 anos atrás nos Inter-Vivos, desde essa altura treinei todos os escalões masculinos. No feminino trabalhei apenas esta época com a selecção senior.
Durante estes anos fui treinador na Associação Inter-Vivos, Sapalense e Louletano. Selecionador das selecções do Algarve nos diversos escalões de 2002 a 2008 e 2012-13. Treinador da selecção da GNR com participação no torneio Ibérico em Espanha em Setembro último, em Junho disputa-se o apuramento para o mundial das forças de segurança. Preletor dos cursos de treinador de futsal na disciplina técnico-tática na associação de futebol do Algarve e associação de futebol de Évora e Colaborador no gabinete técnico da AFA para o futsal.
Ao longo destes 14 anos como treinador as minhas equipas venceram vários campeonatos e taças do Algarve nos diversos escalões.
Luís Conceição como treinador da seleção da GNR.

Está pela primeira vez no futsal feminino. Como chegou ao feminino e o que o motivou para tal?
A minha chegada ao futsal feminino deve-se ao convite que me foi feito pela direcção da associação de futebol do Algarve para colaborar com o gabinete técnico da AFAlgarve e ficar como treinador das selecções distritais.

Depois de alguns anos desativadas, as seleções distritais femininas estão de volta. Como vê esta reativação?
É sempre positivo a criação de selecções em qualquer escalão. Neste caso particular da selecção senior e organização do inter-associações teve como principal objectivo da FPF a observação de atletas que reúnem-se as condições necessárias para integrar a selecção nacional que participa no próximo mês de Dezembro no mundial da categoria. É uma aposta forte da direcção da FPF o desenvolvimento do futsal feminino não só este inter-associações que participamos recentemente mas também a criação do inter-associações de sub-19. A criação da taça nacional de juniores femininos também pode estar para breve e na próxima época desportiva inicia-se o campeonato nacional de seniores femininos. Penso que estas medidas podem fazer com que o futsal feminino dê um salto não só a nível quantitativo mas também qualitativo.


De que forma avalia a qualidade do futsal feminino algarvio? Acredita que num futuro próximo teremos possibilidades de lutar por uma melhor classificação do que a alcançada este ano no Torneio Inter-Associações?
Durante muitos anos acompanhei o futsal feminino como adepto da modalidade e assisti a vários jogos entre equipas algarvias e fiquei com uma opinião formada sobre a qualidade colectiva e individual das atletas. Na minha modesta opinião e tem o valor que lhes quiserem dar, penso que temos um longo caminho a percorrer a todos os níveis (clubes, treinadores e jogadoras). Existem enormes lacunas de formação nas bases da técnica individual e nos princípios de jogo das nossas atletas. Dou dois exemplos práticos que me deparei ao trabalhar de mais perto com as atletas e passaram-se inúmeras vezes no processo treino/jogo, as nossas atletas quando estão em posse de bola e são pressionadas assim que sente a sombra da pressão tremem por todo o lado logo a tomada de decisão muitas das vezes não ser a mais correta nota-se que existe défice trabalho sob pressão e da solicitação da velocidade mental. Outro dos factores que apresentam muitas dificuldades e condiciona o seu jogo têm a ver com a recepção e protecção da bola, a recepção têm de ser orientada para o queremos fazer a seguir, a bola sempre no nosso raio de acção/protecção, quem não consegue realizar uma recepção dificilmente consegue jogar futsal. Estes pormenores são fundamentais para o crescimento das atletas e devem ser bastante desenvolvidos nos clubes,não faz sentido tentar ensinar táctica se não dominamos a técnica, isto é saltar etapas de aprendizagem e desenvolvimento das atletas.  

Estreia no futsal feminino como selecionador da AF Algarve.

Quanto a segunda parte da questão, quando se trabalha numa selecção com algumas limitações ao nível de recrutamento de atletas nunca é prioritário os resultados, existem valores de identidade e formação a defender com mais importância do que a busca de um simples resultado. Partimos para este torneio com as atletas que estavam disponíveis para treinar e representar a selecção. Todos sabemos que algumas das melhores atletas não conseguiram dar o seu contributo e de certeza que com a presença delas poderíamos ter formado uma selecção mais competitiva e os resultados podiam ter sido outros. Mal de nós e do nosso futsal quando partimos para qualquer competição onde o nosso foco é apenas o resultado, devemos lutar sempre pelo melhor resultado possível mas nunca ficar obcecados pelo resultado desportivo essa não é a nossa forma de estar e pensar e não nos tira ambição.


O que diria a todas as atletas femininas das equipas algarvias, que anseiam e todos os dias trabalham para chegar às selecionáveis da seleção distrital?
Vou deixar a mesma mensagem que transmiti as atletas no final do torneio. Que sejam exigentes para com elas próprias, humildes  e ambiciosas. Trabalhem diariamente para melhorar as vossas competências, se o fizerem tem a porta aberta para as selecções.


Verificou-se alguma controvérsia em torno da forma como foi feita a pré-seleção de jogadoras que compuseram a nossa seleção distrital. Não tanto pela presença de algumas, mas mais pela ausência de outras. O que tem a dizer quanto a isso?

Devido ao timing do Torneio, a observação das atletas não foi possível em competição. A convocatória foi construida através da indicação dada pelos treinadores de cada clube. De qualquer forma estamos atentos à evolução e desempenho das atletas e num futuro próximo vão integrar a seleção distrital. 



Está nos seus planos ou gostaria de vir a treinar uma equipa feminina do nosso campeonato?
Nunca digo nunca, mas não é exequivel num futuro próximo. De qualquer forma gostei muito de trabalhar com estas atletas e foi uma experiência encantadora e ainda nos vamos encontrar novamente antes do final da época para observar as atletas.

Em 2006, no comando seleção do Algarve sub 16 masculina.

Costuma-se dizer que é mais fácil treinar homens do que mulheres.. Partilha desta opinião?
Cada género com as suas próprias características e diferentes uns dos outros. Se me disserem que podemos ser mais exigentes, agressivos e intensos com os homens isso concordo, que seja mais fácil não concordo.

A seleção feminina algarvia defrontou a sua congénere lisboeta no Inter-associações.

Há pouco mais de dez anos atrás ainda existia uma competição por zonas, Sotavento e Barlavento, tal a quantidade de equipas. Daí para cá, temos observado de ano para ano, um decréscimo do número de equipas participantes no campeonato distrital (apesar de este ano serem oito, continuam a desistir equipas) Que acha que tem que ser feito no sentido de se inverter essa realidade?
Continuo a dizer que os dirigentes são os principais responsáveis pelo estado em que os clubes se encontram, a crise económica não é de agora, começou a fazer-se sentir por parte dos clubes em busca de patrocínios e apoios a alguns anos atrás. Continua-se a mandar as culpas para cima dos outros quando não somos capazes de assumir os nossos erros, os directores dos clubes têm muita responsabilidade pela situação actual dos clubes o que levou ao desaparecimento de muitos deles, mas isto era tema para muita conversa e ficamos por aqui. Falando do presente e na realidade foi aprovado em reunião na AFA já para esta época desportiva a não obrigação de policiamento nos jogos distritais de seniores masculinos e femininos o que faz com que as despesas diminuam. Outra das questões que continua a ser muito abordada pelos clubes passa pela alteração dos valores das taxas de inscrição, nomeadamente o que se considera uma transferência.

A principal solução a meu ver passa por os clubes criarem uma autonomia própria ao conseguirem estratégias para arrecadar receitas e poderem sobreviver, não podem estar tão dependentes das Câmara Municipais como acontecia até aqui. O decréscimo de equipas e clubes é um processo que afeta todas as modalidades por todo o país. A razão é simples não há dinheiro, as câmaras cortaram nos apoios os patrocínios privados estão a desaparecer de dia para dia. Os clubes durante muitos anos limitaram-se a dinheiros fáceis prometeram mundos e fundos a atletas e treinadores sem condições para o fazerem o que levou a que muitos ficassem endividados, outros tiveram de fechar portas. Hoje estamos numa situação inversa, vamos ver quantos conseguem continuar a proporcionar atividades desportivas para todos.

Como imagina o futsal feminino no Algarve daqui a dez anos e que medidas acha importante serem tomadas em prol da sua evolução?
Com a conjunta económica atual e as esperanças serem reduzidas numa melhoria significativa para os próximos anos é difícil prever esta situação como todas as outras que estão directamente ligadas e dependentes do financiamento e apoios de terceiros.

Ainda assim espero um crescimento do futsal em geral nos próximos nos. O futsal feminino têm um grande potencial de crescimento, o futuro dos clubes passa por apostarem cada vez mais na formação e recrutamento de novas atletas nomeadamente uma maior aproximação e talvez a criação de parcerias com o desporto escolar. É nas escolas que pode estar o grande crescimento do futsal feminino, a criação de competições femininas (2*2 ou o 3*3) dentro da própria escola ou fora desta pode ser uma forma de observação e captação de novas atletas. A criação da taça nacional de juniores, o inter-associações de sub-19 podem ser excelentes medidas para aumentar a qualidade e exigências das atletas. Já em relação ao campeonato nacional de seniores femininos não sei até que ponto é positivo para as equipas Algarvias, muito sinceramente penso que pode ser prejudicial para os nossos clubes que participem nela, mas, vamos esperar pelos moldes competitivos que a FPF vai apresentar e no final da época 2013-14 tiramos as conclusões.

Tendo até então trabalhado no masculino, quais as maiores diferenças e dificuldades com que se deparou?
As diferenças são algumas, principalmente a forma de abordar e liderar as atletas têm de ser diferente. Para quem sempre trabalhou com o masculino e até que não se ultrapasse aquele período de adaptação sentimos algumas diferenças. Ao nível de conhecimento do jogo penso que no masculino existe alguns clubes e jogadores que desenvolvem um trabalho muito evoluído e estão num patamar de qualidade bastante interessante, em relação ao feminino o trabalho das equipas assenta mais nos valores da criatividade individual das atletas do que no processo colectivo, embora já vão surgindo algumas excepções.


Aqui com o plantel senior do Louletano.

Em Dezembro deste ano, Portugal terá o prazer de receber a 3ª edição do Torneio Mundial e que irá contar com a participação das melhores seleções do Mundo. Quais as suas expetativas para a "nossa" equipa das Quinas neste Torneio?
Tendo por base os últimos resultados alcançados em diversos torneios e como muitas das atletas a manterem-se em actividade espero que a nossa selecção possa alcançar o pódio.

Para finalizar, que palavras deixa aos seguidores do blog?
Como amantes e adeptos do futsal todos temos de dar um pouco mais de nós em prol da modalidade nos próximos tempos. A criação de alguns blogs (clubes os particulares) têm sido fundamentais na divulgação das coisas boas que se fazem nos clubes. Espero que as Machadinhas continuem a dinamizar o blog como o tem feito até aqui de uma forma muito interessante e uma excelente forma de acompanhar o futsal feminino.  Agradeço o vosso convite para a realização desta entrevista, o meu muito obrigado.

Em nome da equipa do blog, queremos agradecer toda a sua disponibildade e desejar-lhe a continuação de um bom trabalho à frente da nossa seleção distrital, de forma a elevarmos o bom nome do futsal feminino algarvio.

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